A pelada e suas regras
Carlos Minossi – Blog RádioColorado
O futebol cresceu a partir dos subúrbios e se tornou extremamente popular devido a ser um esporte que não exige dinheiro e que pode ser jogado em terrenos baldios, becos e praias, motivo pelo qual no País do Futebol é difícil encontrar quem nunca jogou uma pelada, na rua, na escola, dentro da sala de aula ou em qualquer lugar onde se possa bater uma bolinha, aqui vamos falar das regras da pelada e a primeira e mais importante regra da pelada é que ela não tem regras definidas e definitivas, mas possui algumas convenções que são observadas pelos praticantes da modalidade.
Como local para o evento qualquer espaço é suficiente e iluminação e estrutura adequada são itens dispensáveis, o tamanho e o relevo variam e o jogo pode ocorrer em um campo de futebol propriamente dito, num terreno baldio não necessariamente plano, geralmente cheio de barro ou puro areão, no meio de uma rua, em uma calçada ou em qualquer superfície plana ou mais ou menos plana, de areia ou grama em praças ou parques, de preferência sem árvores ou edificações que atrapalhem o andamento da peleja.
Resolvido o problema do local, surge à necessidade de providenciar a infra-estrutura mínima necessária e ai entra o jeitinho brasileiro, para servir de balizas se utiliza qualquer coisa que estiver à mão, pedras, tijolos, roupas, chinelos, pedaços de madeira, livros e cadernos, o importante é delimitar e marcar a área do gol, cujo tamanho é definido na base da gritaria entre os times.
A formação dos times depende muito do espaço disponível, das condições climáticas e da disponibilidade dos atletas. Inicialmente fica definido que o número de jogadores será o mesmo para os dois times, mas como sempre uma das equipes tem um jogador diferenciado, a outra pode ficar com um jogador a mais que geralmente é aquele que tem o menor potencial futebolístico entre todos. Ainda existem outras regras pré definidas para a escalação, o pior jogador vai para o gol, aqueles considerados pernas de pau jogam na ponta, esquerda ou a direita para não comprometer o time, se o atleta usar óculos é escalado de armador para evitar acidentes e se for gordo ou muito magro e alto joga na zaga.
A formação das equipes se dá por afinidade, porém geralmente é feito um sorteio ou uma disputa no par ou ímpar para ver quem sai escolhendo, em algumas ocasiões o dono da bola, das camisetas ou o mais forte levam vantagem na hora de escolher os atletas.
Se não houver uniforme disponível fica estabelecido que jogarão os de camisa contra os sem camisa e se não tiver bola utiliza-se qualquer coisa que sirva para chutar, bola de pano ou de papel, tampinha de garrafa, pedra, lata vazia, garrafas pet, bola de tênis, de frescobol, o que vai servir de gorduchinha não importa a única coisa realmente importante é garantir a diversão;
Como o jogo não tem Juiz, não há nenhuma punição formal como cartões as marcações de faltas e demais irregularidades se dá através da milenar técnica do grito, caso hajam dúvidas as decisões devem ser tomadas por consenso e por bom senso, caso não aconteça qualquer um dos dois, acaba prevalecendo a lei do mais forte e da porrada.
A partida somente pode ser interrompida apenas em três situações, se a bola cair no quintal do vizinho, neste caso deve-se esperar devolução voluntária da bola e se isso não ocorrer os jogadores devem designar voluntários para bater na porta da casa para pressionar a devolução, ou então quando estiver passando qualquer garota gostosa ou ainda se for necessário, para deixar o trânsito fluir.
O tempo do jogo é variável, mas geralmente vira em cinco e termina em dez, porém pode ser abreviado se o dono da bola tiver que ir embora, ou ficar muito tarde e alguém da vizinhança correr os atletas a porrada ou chamar a polícia. Nos casos eu que exista alguma outra equipe esperando para entrar em campo, o jogo acaba quando um dos “times” fizer o terceiro gol e assim permite que todo mundo possa jogar.
São permitidas substituições nos casos de um jogador ser carregado para casa pela orelha, pois foi encontrado gazeando a aula ou por não haver feito a lição de casa, ou nos casos em que o jogador tenha uma unha arrancada, tenha uma lesão grave ou fratura na perna ou no pé, mas é permitido voltar à partida, após utilizar aquela água milagrosa da torneira do vizinho.
Em relação à marcação de faltas, fica definido que do pescoço para baixo tudo é canela e a única falta realmente considerada passível de punição é para os casos de fratura exposta ou se alguém jogar o adversário escada ou barranco a baixo.
Os casos de litígio quase sempre são resolvidos no tapa, prevalecendo sempre a razão dos mais fortes, geralmente fica demonstrado que sempre quem tinha razão é quem acertou o primeiro soco, os mais fortes, ou quem pegar uma pedra ou um pedaço de pau primeiro.
O jogo geralmente acaba quando anoitece, pois raramente os campinhos têm iluminação ou quando o dono da bola vai embora ou ainda quando a bola fura.
Em algumas situações, para definir o vencedor não importa o placar do jogo, pois se alguém gritar o famoso “Quem fizer o próximo ganha” a bola vai ao centro do campo e começa uma verdadeira final de Copa do Mundo.
Algumas das expressões mais usadas nos clássicos peladeiros, “ É minha; Deixaaaaaaa...; É nossa; Como nossa se eu chutei em ti; Quem rouba perde; Porque tenho que ir para o gol?; Não entrou tu é cego?; Não vale bomba; Que gol, passou por fora da trave....”
Por isso a pelada de Rua é uma instituição nacional e basta um grupo de amigos, uma turma, um local e algo que funcione como uma bola para sair a peleja e com certeza quem nunca curtiu perdeu um dos maiores prazeres da vida...
A pelada e suas regras
Reviewed by Redação
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19:33
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Passei toda minha infância e adolescência jogando peladas na rua e em futebol de salão no mesmo estilo, nas quadras de uma escola próxima de casa, sei bem o quão isto é importante para unir a comunidade da região. Não tinha pobre, rico, gordo, magro, alto, baixo, todos jogavam juntos! Sinto falta destes espaços hoje em dia, onde as crianças eram crianças e todo mundo se respeitava!
ResponderExcluirÉ isto ai meu querido amigo, quantos craques surgiram nos campinhos que existiam nas ruas, praças, esquinas, terrenos baldios, pátios de escolas e casas abandonadas. Esta tradição nos fez o Pais do futebol, infelizmente a cada dia fica mais dificil encontrar um local para os jovens jogarem.
ExcluirAbração
Minossi